A liberdade e a Educação

Pensamentos acerca de uma relação entre a liberdade social e uma educação de qualidade.

A Encruzilhada
4 min readMay 6, 2020

Parando pra pensar em um exemplo hipotético. Nós não temos a opção ir e vir para onde bem querermos. Não podemos viajar para a Paris durante o inverno pra conhecer a neve, a não ser que tenhamos uma coisinha chama “grana”, para custear os altos preços desse lindo passeio a la Belle Époque.

Não podemos adquirir determinados itens de “conforto” para melhorar nossa qualidade de vida; não temos acesso à serviços como os ricos têm, como educação de qualidade para nossos filhos ou um atendimento médico especializado para nossos pais/avós, sequer as vezes conseguimos uma alimentação de qualidade. Para mantermos nossos empregos, passamos por cima de muita coisa, sem a liberdade de expressar nossa e opinião. Sequer temos a liberdade de escolher nosso próprio trabalho. O sonho de muitos é deixado de lado por conta das necessidades — vejo muitos companheiros e companheiras querendo seguir suas carreiras na música, no teatro, nas artes, nos estudos, na agricultura, em seus pequenos negócios… Mas a responsabilidade de garantir sua sobrevivência e muitas vezes, de toda a família, impede-os de seguir seu sonho.

É de direito do ser humano a liberdade de escolhas e de acesso, e é função do Estado que isso seja garantido. Mas o poder da burguesia sobre a sociedade nos afasta de uma realidade pacífica, justa e livre. O Brasil possui uma dominação imanente à sua história, e em todo nosso enredo de pouco mais de 520 anos, a burguesia teve seus interesses reinando sobre a vida do povo.

Apesar de todos os revezes, existem espaços em nosso país em que as virtudes do pensamento humano — o saber, a ciência, a solidariedade, a razão, o desenvolvimento e a justiça são uma realidade, e esses espaços são as Universidades Públicas.

Antes de tudo, é importante discutir a questão do acesso à educação pública, que embora seja um direito constitucional, ainda continua segregado. Apesar do sistema de cotas, regulamentado através da Lei n° 12.711 de 2012, garantir 50% das vagas para alunos de escolas públicas e/ou auto-declarados negros, pardos ou indígenas, de certa forma ainda funciona como um “filtro social”, sendo muito mais acessível à elite.

Com todos os problemas que existem dentro do nosso sistema público (e olha que não são poucos), é neste ambiente que jovens mudam suas vidas e transformam o mundo. A Universidade oferece uma chance para que os filhos da classe trabalhadora alcancem a riqueza — e quando digo riqueza, quero dizer a riqueza cultural, o conhecimento e o intelecto — uma oportunidade de enxergar novos horizontes e disparar para uma vida melhor; é esse o espaço em que se oferece as condições materiais para o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e cultural da sociedade.

Falo por experiencia própria. Antes da transferência para a UNESP cursei um ano em uma faculdade EAD e mais um ano em uma presencial, ambas do setor privado. Os interesses da educação pública e da educação particular influenciam diretamente na infraestrutura da instituição. O setor privado funciona como um comércio do ensino superior, onde diplomas viraram mercadoria e a educação é uma reprodução do pensamento da classe dominante. A Universidade Pública foca a qualidade do ensino e o desenvolvimento tecnológico e científico, oferecendo para os estudantes oportunidades e condições para tal, como moradia e bolsas de permanência estudantil, laboratórios com livre acesso, um acervo bibliográfico extenso e de qualidade, acesso à internet, refeitório popular…

Conclusão:

Em 2019, ingressei no curso de História pela FIRA — Faculdades Integradas Regionais de Avaré. No mês de fevereiro, não me lembro ao certo o dia do mês, mas era uma segunda-feira, tive minha primeira aula presencial em uma faculdade. A aula era de “Fundamentos de Sociologia”.

A professora se apresentou e pediu para que os estudantes se apresentassem. Em seguida, ela nos deu uma aula sobre educação. Aquilo foi lindo! Ao final ela falou sobre o poder da educação e o porque dedicou-se a ela. Mas de tudo o que ela nos falou, uma frase em específico me tocou:

“A Educação é um ato Subversivo”

Esse dia, essa frase e essa professora marcaram o que sou. Depois desse ano cursando História, acabei me descobrindo nas Ciências Sociais, e tentei uma transferência para a UNESP. Salvo engano, foi a melhor decisão que tomei na vida. Do começo de 2020 pra cá, venho acreditando cada vez mais no poder do conhecimento e na força revolucionária da educação.

Que o mundo seja um lugar melhor pra todos, e que a classe trabalhadora enfim seja livre.

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